Projeto Livro Galego na revista Tempos Novos

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A nossa companheira Lucia Cernadas participou no número 330 da revista Tempos Novos, sendo entrevistada como parte de uma peça sobre o setor editorial galego. Junto a ela, responderam as perguntas Xulián Maure, fundador de Xerais e ex-subdiretor geral do livro, Isabel Soto, crítica e tradutora de literatura infanto-juvenil, e César Lorenzo, editor e crítico. A entrevista respondia a um informe prévio sobre o estado do setor editorial galego, assinado por Manuel Bragado sob o título de “Anemia editorial”, cujas principais conclusões são as seguintes:

  • Livro dirigido a público escolar implica a maior parte das vendas
  • Edição de literatura infanto-juvenil começa a superar o livro de texto como principal subsetor em galego
  • Venda de livro literário para público adulto estabiliza-se em 15%
  • Número de títulos baixa
  • Livro de texto cai em relevância
  • Número baixo de traduçons e reediçons
  • Edição em galego quinta parte da edição em catalão e mesma quantidade de títulos que edição em basco

O informe aponta, principalmente, para uma aparente contradição: num momento considerado de esplendor para a literatura em galego, o setor editorial está “estancado”.

Reproduzimos na íntegra as respostas de Cernadas à entrevista:

Nom me surpreendem. Som consequência das políticas culturais, linguísticas e educativas das últimas décadas. Ante a ausência de um trabalho integral na criaçom dum público nom para-escolar, é lógico que as agentes do setor procurem mercados privilegiados: o infanto-juvenil e o do livro de texto (agora em declive).

Doutra parte, estes dados nascem da escassa aplicaçom da Lei do Libro de 2006 e na falta de interlocuçom entre a administraçom autonómica e as profissionais da ediçom contemplada nessa lei. No I Encontro do Livro Galego, organizado polo projeto de investigaçom de que fago parte (livrogalego.net), pudemos observar como esse espaço de diálogo, que permitiria umha planificaçom participada da atividade editorial, permanece inativo.

Finalmente, de modo mais geral, opino que o atual status do galego configura um espaço de possibilidades reduzido. Mudar umha série de grafias nom é a panaceia e cumpriria um trabalho profundo para configurar outros mercados, mas parece claro que o atual constrói, dumha parte, um teto baixo e, doutra parte, umha única porta de saída (material e simbólica): a que dá ao mesmo sistema que o ameaça.

É certo que a profissionalizaçom e diversificaçom do setor editorial galego crescêrom progressivamente no período autonómico; nom podia ser doutro jeito levando em conta o ponto de partida. Dito isto, permito-me responder com novas perguntas: que instâncias determinam a “qualidade” da oferta editorial (vendas, prémios, crítica…)? De onde procedem estes reconhecimentos? Quais as consequências para o setor editorial galego de competir nas prateleiras das livrarias com as versons traduzidas ao espanhol dos seus produtos? Como definimos os tais públicos consumidores? Se a língua é cada vez menos e pior, como vendemos produtos nessa língua? Qual é a vida útil dos livros e quanta independência deixam as distribuidoras para decidir sobre ela? Acho que todas estas questons, de resposta demorada, precedem qualquer aproximaçom honesta aos motivos da receçom do livro galego hoje.

De novo, deveriamos perguntar-nos se tal conexom existiu algumha vez. Se queremos construí-la, cumprem várias reflexons prévias e algumhas estratégias.

Umha tarefa fundamental é dirimir os objetivos e interesses do setor: o que importa mais, a autonomia cultural ou a conta de resultados? Compreendemos que no setor que, teoricamente, está unido por umha língua há também interesses encontrados e até opostos? Para responder estas perguntas necessitamos vontade política e social de todas as partes envolvidas e espaços para a interlocuçom e a planificaçom. Desde o projeto que acabamos de iniciar, tentaremos facilitar esse espaço.

Ainda no nível institucional,  seria interessante explorar vias de colaboraçom a nível provincial e local. No nível civil e associativo, existem múltiplas iniciativas com impato no campo editorial. Nom subestimemos o poder dos clubes de leitura, dos cursos de escrita, das contas de bookstagram, das apresentaçons em livrarias, das redes sociais… e de todo um conjunto de ferramentas ao nosso alcance que nos lembram que temos agência.